Web Novela de Everton B Dutra
“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade”.
01 INT. MANSÃO DELLAFRANCO, QUARTO DE MIGUEL — NOITE.
ABRE A CENA. Tocando WHAT’S UP- 4 NON BLONDES
DOLLY IN. CAM se aproxima lentamente de Miguel e Juliano, ambos no chão. Juliano por cima de Miguel. Se encontram assustados, atônitos.
JULIANO/MIGUEL—(em uníssono)Eu/Desculpe/É que…
Os dois param de falar e se entreolham.
MIGUEL — É que…
JULIANO — Hã…
MIGUEL — Tá em cima do meu…
Miguel aponta para baixo. Juliano saca. Se desculpa enquanto levanta.
JULIANO — Ai, meu Deus, desculpa. Nossa…
Os dois vão para lados opostos, de costas, sem graça. Juliano passa a mão no pescoço, tenso.
JULIANO — Eu…
Nesse exato momento, o choro de Toni entra em cena.
JULIANO (aliviado)— Graças à Deus.
Juliano sai do quarto de Miguel, que logo senta-se na cama e põe um travesseiro por entre as pernas. Respira.
02 INT. MANSÃO DELLAFRANCO, QUARTO DE TONI — NOITE.
A música continua.Juliano caminha até o QUARTO DE TONI.
Juliano segura Toni e o balança, tentando pôr ele para dormir. Ele fala sozinho algo inaudível, enquanto a criança desanda a chorar. Miguel aparece na porta do quarto.
MIGUEL — Quer ajuda?
Juliano o olha.
Uma rápida passagem de tempo se faz na tela, mostrando Miguel e Juliano fazendo diversas coisas para que Toni durma.
PARA. FOCO. Eles estão deitados no tapete do quarto, com os rostos quase colados. Toni entre os dois. Dormem.
Os primeiros raios de sol adentram refletem no quarto.
03 INT. MANSÃO DELLAFRANCO, SALA DE REFEIÇÕES — DIA.
Todos se encontram tomando o café da manhã. Foco. Jade brinca com Toni.
MIGUEL — Se acostumou assim tão rápido com o Toni?
JADE — Qualquer coisa que me faça feliz dentro dessa casa é válido. Toni tirou esse clima mórbido que você criou de dentro dessa casa.
MIGUEL — Porque me culpa por tudo o tempo todo?
JADE — Porque talvez você é culpado, já pensou nisso?
MIGUEL — Escuta aqui…
JULIANO (Interrompe) — Parem vocês dois. Parecem duas crianças, que coisa. Até o Toni consegue ser mais sensato que vocês. Você devia respeitar o seu pai e parar de implicar com ele.
JADE — Mas…
JULIANO (à Miguel)— E você devia ser mais presente na vida da sua filha e tentar ser menos arrogante e autoritário.
MIGUEL — Não pode me dizer o que fazer.
JADE — Tá vendo?!
JULIANO — Podemos falar sobre coisas normais? Por favor?
Um silêncio é feito.
MIGUEL — O Maurício, lembra? Ele me ajudou com você naquele dia.
JULIANO — Sim. Lembro.
MIGUEL — Parece que eles vão montar uma ação pra pegar um psicopata que atrai mulheres pra depois matá-las.
JULIANO (chocado)— Nossa… Que horror.
MIGUEL — Pois é, mas eles não encontram ninguém pra servir de isca, que os ajude nessa ação.
Em Jade, que escuta tudo atentamente.
04 INT. CASA DE MEL,QUARTO — DIA.
Laís e Verônica conversam, preocupadas, enquanto Laís, com umas máscara facial, contempla um vestido em cima de sua cama.
VERÔNICA — Eu estava vendo o nosso saldo bancário, filha… Não temos mais aquela fortuna que seu pai nos deixou.
LAÍS — Mamãe, eu não vou abrir mão da minha festa de noivado, não vou. Eu mereço.
VERÔNICA — Eu sei que você merece, mas se não economizarmos, ficaremos à mercê da falência.
LAÍS — Uma festa não vai acabar com todo dinheiro que temos, mamãe.
VERÔNICA — Não, mas temos que moderar.
LAÍS — Não importa o jeito que encontrarmos, mas a minha festa tem que acontecer!
Laís bufa e pega um vestido. Se olha no espelho.
05 INT. CLUBE — DIA.
Várias pessoas ricas passam por frente a piscina do grande clube que fica num bairro nobre da cidade. Ricardo se encontra numa espreguiçadeira, tomando sol, com água de coco e óculos no rosto.
RICARDO — A vida não poderia ser mais generosa comigo. Vou casar com uma mulher rica… Finalmente sai daquela pobreza infernal.
Ele grita, comemorando.
RICARDO — Viva a minha nova vida! Viva a riqueza!!
Ricardo ri.
MUSIC FADE: DOWNTOWN- ANITTA & J BALVI.
Uma mulher loura e com uma beleza tropical acaba de sair da piscina e passa por ele, que a olha de cima a baixo.
RICARDO(morde os lábios)— Gostosa.
Volta a tomar a água de coco.
06 STOCK SHOT, SÃO PAULO.
A música continua enquanto alguns pontos de São Paulo vão sendo mostrados na tela. PLANO AÉREO.
07 INT. DELEGACIA, SALA DE MAURÍCIO — DIA.
Maurício analisa fotos do PSICOPATA com bastante atenção.
Até que a porta da sala é aberta bruscamente. Adentra Jade, seguida por um agente.
AGENTE — Desculpe, delegado.Eu tentei impedir.
Maurício levanta os olhos.
MAURÍCIO — O que você quer?
JADE —Não o que eu quero e sim o que eu sou.
MAURÍCIO — E o que você é?
JADE — Eu sou o que você precisa. Eu sou a isca que vocês procuram pra pegar o psicopata.
Maurício encara Jade, que carrega um semblante corajoso e decisivo. Maurício senta-se na cadeira e começa a rir. Ela murcha.
JADE — Qual a graça?
MAURÍCIO — Você.
JADE — Que eu saiba meu nome ainda não mudou pra palhaça.
MAURÍCIO —Não serve.
JADE — Como assim?
MAURÍCIO — Primeiro que seu pai nunca iria deixar e segundo que você não tem preparação alguma.
JADE — Primeiro que eu já sou maior de idade e meu pai não tem nada aver com a minha vida. Segundo, que preparação a gente ganha. Eu posso aprender.
MAURÍCIO — Não sabe onde está se metendo, menina.
JADE — É por isso que eu tô aqui, pra descobrir. E enquanto a gente está aqui discutindo, esse cara tá lá fora desgraçando a vida de centenas de mulheres! Então eu acho melhor você descer da porra desse altar e me ensinar a merda dos procedimentos, porque você só tem a mim.
Os dois se encaram.
TOCANDO: ROLLING IN THE DEEP- ADELE.
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
A música continua e uma sequência de cenas é mostrada na tela.
a) Jade e Maurício trocando ideias e em maioria das vezes discordando um do outro.
b) Miguel e Juliano distantes, seguindo uma rotina de desencontros. Quando Miguel chega do trabalho, Juliano está dormindo e quando Juliano acorda, Miguel já tem ido para o trabalho.
c) Laís empolgada para a sua festa de noivado e Ricardo desfrutando do dinheiro da família.
d) Policiais invadindo o morro do Talarico.
e) Moisés vagando sem rumo nas ruas. Deita-se no chão e dorme.
A música vai diminuindo aos poucos.
08 INT. CARRO — DIA.
LETREIRO: 01 MÊS DEPOIS…
O carro de Maurício se encontra parado frente a um barzinho. Foco em Jade, no banco ao lado, olha-se no espelho e passa um batom vermelho.
MAURÍCIO —É aqui que ele faz suas vítimas, ele as conhece nesse bar.
JADE — Só tenho que ir lá, chamar a atenção do cara e esperar que ele me convide para uma noite em seu apartamento.
MAURÍCIO — Isso.
JADE — Fácil.
Jade abre a porta do carro. CAM a acompanha. Ela joga o cabelo para o lado, espantando o vento, decidida
08 INT. BAR — DIA.
BAR, adentrando.
Toda produzida. Ela corre os olhos pelo local e acha o sujeito no balcão. Sorri e passa a caminhar até lá.
JADE — Uma taça de vinho,por favor.
O barman atende seu pedido. Jade olha o cara ao lado de relance e nota que também está sendo observada. Ele chega perto dela.
AMADEU — Gosta de vinho?
JADE — Amo. Você não?
AMANDEU — Quem não gosta de vinho?
JADE — Gosto, mas confesso não entender nada sobre. Não sei diferenciar safras, nem o tempo que foi produzido, muito menos a marca.
Ela ri, simpática. Ele sorri, cético, macabro. Seus olhos caminham para a mão de Jade e foca em suas unhas vermelhas. Passa a língua nos lábios.
AMADEU — Olha, na verdade, eu entendo muito de vinho. Meu pai me ensinou tudo que sei e… É fascinante.
JADE(Contente/Irônica) — Jura? Difícil ver homens tão cultos a ponto de entender tudo sobre vinho. Deve também entender, também, sobre mulheres.
Seu semblante é sombrio. Ri de um canto da boca.
AMADEU — Posso te dar umas dicas…Faz um seguinte.
Ele pega um guardanapo na mesa e uma caneta no bolso, e anota um endereço no papel. Entrega a Jade, deslizando sobre o balcão.
AMADEU — Passa na minha casa. Eu posso te fazer entender tudo sobre.
JADE — Taí, ótima ideia! Nossa, você caiu do céu, eu precisava mesmo de umas dicas. Quero dar um presente para uma amiga importante, achei que vinho seria ideal. À noite, então?
Ele sorri. Ela bebe todo o vinho da taça e a deixa sobre o balcão.
10 INT. CARRO — DIA.
E volta a adentrar no carro.
MAURÍCIO — Já?
JADE — Não brinco em serviço. Ele marcou pra hoje à noite na casa dele.
MAURÍCIO — Ótimo, vamos realizar toda uma ação de segurança. Não vai estar correndo nenhum risco.
Maurício parte com o carro.
11 INT. CRECHE, DIRETORIA — DIA.
Juliano e a diretora da creche acabam de adentrar.
DIRETORA — Sente-se, por favor!
Juliano se senta. A diretora folheia os documentos que Juliano entregou enquanto fala.
DIRETORA — Bom, o senhor fez uma ótima escolha em pôr seu filho aqui. Oferecemos dinâmica, salas de brinquedo, aprendizado, coisas que seu filho com certeza vai gostar.
JULIANO — Fico muito feliz em poder pagar isso pro Toni. Quero que ele tenha um futuro. Ainda mais no mundo de hoje, com tanta violência, tanto preconceito.
DIRETORA — E não é? Aqui ele terá tratamento especial como todos os outros…
A diretora lê o papel atentamente. Estranha.
DIRETORA —Na certidão desse menino consta que ele tem dois pais. Juliano Tavares e Miguel Dellafranco.
JULIANO — Exatamente.
DIRETORA — Vocês dois…
JULIANO(desconfortável)— Sim, somos casados.
DIRETORA — Ah… É… Desculpe, não temos vagas disponíveis.
JULIANO — Como? Até agora tinha…
DIRETORA — Foi um erro meu, desculpe. Infelizmente seu filho não pode estudar aqui. Temos famílias conservadoras e a imagem da instituição seria danificada.
JULIANO(encara)— Pensei que o problema fosse a falta de vagas.
A diretora tenta explicar, mas Juliano se levanta.
JULIANO —Eu já entendi por que não há vagas, precisa explicar não… Pensei que isso aqui fosse melhor, porque, afinal de contas, pelo valor que vocês cobram… Mas bem se viu que tipo de valores é levado em consideração nesse lugar.
Juliano sai da sala transtornado. CAM O ACOMPANHA
FOCO EM SEU ROSTO; Indignado e triste.
12 EXT. CASA DE AMADEU — NOITE.
TOCANDO: EURYTHMICS- SWEET DREAMS.
ÂNGULO BAIXO. CAM focaliza Jade de baixo para cima. Seus sapatos fazem barulho enquanto anda. Ela toca o comunicador disfarçado em seu ouvido.
JADE — Eu sei exatamente o que fazer.
MAURÍCIO(V.O) — A gente tá monitorando. Faz o que a gente combinou.
JADE — Para de falar no meu ouvido.
Jade chega à porta da casa de Amadeu.
JADE — Tá, para, chega.
A porta é aberta. Imediatamente, Jade sorri.
13 INT. CARRO DE MIGUEL, ESTRADA — NOITE.
JULIANO — Você acredita que aquela mulher é preconceituosa? Ela negou a vaga pro Toni por que nós somos casados. Escrota.
Miguel está em estado de nervos. Sem paciência. Explodindo.
JULIANO — Você tá me ouvindo?
MIGUEL(Exalta) — Não! Eu não tô te ouvindo, eu não quero te ouvir!
JULIANO — Tá nervoso por quê? Pensei que você não se importasse.
MIGUEL — Não, eu não me importo! Eu não me importo com sua vida, não me importo com esse bebê. Eu tô cheio de problemas na empresa e você vem me encher com isso?!
JULIANO(Exalta) — Você só se importa com você mesmo! Com esse seu mundo idiota de ganhar dinheiro a qualquer custo!
Miguel para o carro bruscamente.
MIGUEL — Desce!Desce do carro.
JULIANO — Vai me deixar na rua de novo?
MIGUEL — Vai!
Juliano não hesita e desce do carro, batendo a porta com tudo.
JULIANO — Vai pro inferno!
TOCANDO: PRA ONDE EU DEVO IR — VANGUART.
Miguel parte com o carro, deixando Juliano para trás. Ele apenas olha para a pista. CAM foca no retrovisor do carro, que reflete a imagem de Juliano. Logo um grupo de homens o cerca e passam a espancá-lo com chutes e socos violentamente.
Miguel nada vê. A cena apenas reflete no retrovisor até se tornar distante.
14 EXT. MANSÃO DE MEL, JARDIM — NOITE.
A festa de noivado de Laís acontece. Muito luxo. Música alta. Ricardo e Laís dançam meio a tantas pessoas, eles bebem champanhe na garrafa. Ostentam.
LAÍS — Te amo!
RICARDO — Eu também!
LAÍS — A nossa festa tá bombando, amor! Eu nem acredito!
Eles riem. O som é abafado por um barulho de helicóptero. Todos olham para cima.
LAÍS — Amor! Eu não acredito… Não… É surpresa?
Laís olha encantada. Ricardo dá de ombros. O helicóptero desce depois de um tempo sobrevoando o local. Todos observam com expectativa.
Desce Mel, completamente mudada. Carrega consigo um visual mais fatal. Sorri. Caminha em direção a eles e pega uma taça de champanhe na bandeja de um garçom que passou. Ergue a taça para cima.
MEL — Um brinde a família!
Mel bebe um pouco e sorri.
MEL — Sentiram minha falta?
Mel encara todos ao seu redor. Foco em Laís, Ricardo e Verônica, chocados.
A cena congela.
Fim do capítulo.
OBRA REGISTRADA E PROTEGIDA PELA LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO, DE 1998. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.